A busca da Felicidade

Autora:  Maria Fátima Granja

 

Todos nós, que habitamos este o Terra, indistintamente caminhamos sempre em busca da felicidade.

Voltaire, escritor francês do século XVII, dotado de grande sabedoria, escreveu em uma de suas obras: “Os homens que procuram a felicidade são como os bêbados que não conseguem encontrar a própria casa, mas sabem que têm uma”.

Realmente todos buscamos a felicidade, porque intuímos que é algo que existe.

Mas onde?

Como consegui-la?

A grande maioria de nós julgamos encontrá-la nas realizações relacionadas à fortuna, conforto, prazer, poder.

Alguns ainda tentam até encontrá-la através dos vícios.

No entanto, a medida que experimentamos, nem que seja uma única vez, um desses estados, em que vivenciamos “momentos felizes”, constatamos que não é verdadeiro o que pensávamos.

Era pura ilusão, pois mesmo aqueles que permanecem numa situação de riqueza, conforto, poder, percebem que, muitas vezes aqueles pretensos geradores de felicidade são sim, geradores de desequilíbrios, perturbações, tensões, intranquilidade, como se fosse uma verdadeira ressaca de quem deteve algo em suas mãos, e não sabendo usá-lo com equilíbrio, lhe acarretou  tão somente mal estar e insatisfação.

Onde procurar então essa felicidade, perguntamos, se não a encontramos nas nossas realizações materiais?

Será que para alcançar momentos felizes precisamos de realizações mais importantes, mais sofisticadas do que o simples conforto material?

Sim precisamos.

Isso porque somos muito mais que essa matéria com a qual nos identificamos, somos muito mais importantes que isso.

Somos seres espirituais, integrantes de uma grandiosa obra, na qual todos os seus elementos devem ser solidários.

Ser solidário, é a solução do enigma da questão felicidade.

Não é assim ao observarmos e prestarmos atenção a tudo que nos rodeia?

O sol e a chuva beneficiam a planta que vai nos presentear a beleza da flor, as benesses do alimento, o conforto do agasalho, o benefício do medicamento.

Do solo extraímos os minerais que vão completar, solidariamente, a satisfação de nossas necessidades.

No ar encontramos os elementos indispensáveis para a manutenção da vida.

Tudo isso é o que se manifesta os nossos sentidos físicos.

Mas existem outras forças naturais, fazendo parte dessa criação perfeita, que numa perfeita harmonia nos mostram a todo momento como deveríamos ser, para nos integrarmos solidariamente num todo e encontrarmos então o mais perfeito equilíbrio, a felicidade tão almejada.

Mas essa integração solidária com todos esses elementos do todo ao qual fazemos parte, é algo que ainda estamos aprendendo.

Já passaram pela Humanidade muitos mestres, Espíritos dotados de grande sabedoria que vieram nos ensinar como sermos felizes.

Houve um Mestre, o maior de todos, dada a sua sabedoria e os seus dotes morais, que deixou registrado com a sua palavra e seus atos a mais importante lição que poderá levar o homem a momentos mais felizes.

Esse Mestre maior é Jesus, o grande Espírito que encarnou na terra para, dada as características dos seus habitantes, ensinar o que era mais premente eles aprenderem.

Ele ensinou muitas coisas, revelando verdades, trazendo ao conhecimento do homem as Leis da Providência Divina, que regem a criação, e fez girar todo esse ensinamento, sobre a mais importante das Leis – a vivência do amor.

Inúmeras passagens dos Evangelhos nos mostram esse empenho de Jesus em fazer com que aprendêssemos a amar.

Ele falava que, de tudo o que o homem já tinha conhecimento naquela época a respeito de conceitos morais e que eles designavam como sendo “A Lei e os Profetas” –  poderia ser resumido simplesmente no amor.

A Lei, que Moisés recebeu mediunicamente, e que os Israelitas consideravam a diretriz máxima do seu procedimento, hoje chega até nós como os 10 mandamentos.

Jesus já dizia que essa Lei poderia ser resumida em apenas dois mandamentos, amar a Deus e amar ao próximo.

Esse código de moral que foi passado aos homens via mediúnica, através de Moises, nos fala exatamente isso, como deve ser o nosso procedimento com relação a Deus e aos nossos semelhantes.

Jesus insistia, ensinando o que diz respeito ao nosso relacionamento com os demais, dizendo: “…tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles.” “Tratai todos os homens como quereis que eles vos tratem”. Mt 7:12 e Lc 6:31.

Ele explicou isso de várias maneiras, primeiramente dando o exemplo é claro, mas Ele também dialogava com os homens, contava estórias, fazia discursos, ensinando o homem a amar o seu semelhante.

Certa vez Ele contou uma estória, de um rei que resolveu acertar contas com aqueles que lhe deviam, ordenando a seus servos que trouxessem a sua presença os seus devedores.

E assim foi feito.

O primeiro devedor que foi trazido a presença do rei e lhe devia uma enorme soma, dez mil talentos.

Mas o homem não tinha como pagar. Como era costume na época, o rei mandou que vendessem todos os seus pertences, bem como a ele próprio e seus familiares, esposa e filhos como escravos, para com o resultado dessa venda saldar a dívida.

O homem ficou desesperado, e pondo-se prostrado no chão suplicava ao rei que tivesse um pouco de paciência, esperasse mais um pouco que ele saldaria o seu débito.

O rei que era um homem sensível e bom, se compadeceu da situação do devedor e mostrando uma grande misericórdia, perdoou a dívida e deixou que saísse em liberdade.

Que alívio aquele pobre homem deve ter sentido.

Saiu da presença do rei em estado de graça, saltitante.

Mas ao sair do palácio do rei, deparou-se com um vizinho seu que lhe devia cem talentos.

Nem era tanto dinheiro assim, no entanto, aquele que estava aliviado pela misericórdia do rei, agarrou o seu vizinho pelo pescoço, e o esganava dizendo: Paga o que me deves.

O pobre homem caindo-lhe aos pés suplicava-lhe que tivesse paciência com ele, pois lhe pagaria assim que pudesse.

O credor porém, mandou que o prendessem e o mantivessem preso até que ele saldasse sua dívida.

Depois dessas providências foi tranquilamente para sua casa.

As pessoas que viram a triste cena foram ao rei e contaram o que se passara.

 

O rei então mandou buscá-lo novamente e disse: Servo malvado, eu te perdoei toda a tua dívida e era muito o que devias, porque você me pediu e eu me compadeci de você. No entanto você não procedeu assim com seu companheiro. Não achas que devias também perdoar a dívida que ele tinha contigo, da mesma forma que perdoei a que tinhas comigo?

O rei estava furioso, e o entregou ao verdugo, até que ele pagasse tudo que lhe devia. Mt 28: 23-35.

Jesus está ensinando com uma estória a fazermos aos outros aquilo que queríamos que fizessem conosco.

No Novo Testamento podemos ler no Livro Os Atos dos Apóstolos, o que aconteceu com os seguidores de Jesus depois que Ele se foi desse orbe material.

Podemos constatar que os primeiros cristãos assimilaram devidamente esse conceito que Jesus tão bem ensinou.

Simão Pedro, o grande amigo de Jesus diz em uma de suas cartas: “Acima de tudo, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre a multidão de pecados”. Pe. 1ª 4: 8

Que seria essa multidão dos pecados que o amor encobre?

Seriam as nossas transgressões às Leis de Deus, os nossos erros que vimos cometendo no decorrer de nossas muitas vidas, que constituem as dívidas que precisamos saldar, certamente com situações de muita luta, muito sofrimento, porque com certeza nossos erros causaram dor a semelhantes nossos.

Segundo Simão Pedro, amando, teremos nossas dívidas liquidadas, mesmo sem passar pelo sofrimento.

Isso porque, quando erramos, Deus não nos castiga, Ele nos ensina, pois o que Deus espera de nós é que aprendamos a nos relacionar com o nosso semelhante e com tudo o mais que Ele criou.

Quando assimilamos realmente o amor, estamos cumprindo a Lei Maior da Providência Divina, e isso significa que aprendemos, sem a necessidade de passar pelo sofrimento, aprendemos a amar.

Se aprendermos a amar estaremos perfeitamente dentro das expectativas da Providência Divina com relação ao nosso procedimento.

Outro personagem do Livro Os Atos dos Apóstolos, é Paulo.

Paulo de Tarso, a quem Jesus apareceu em Espírito na estrada de Damasco para convocá-lo pessoalmente para ser seu apóstolo.

Ele também dá dramáticos testemunhos do seu grande esforço para vivenciar esse sentimento supremo.

Para Paulo deve ter sido muito difícil testemunhar o amor, pois ele tinha arraigados em seu íntimo outros conceitos, carregados de preconceitos e intolerância.

As mãos de Paulo estavam manchadas do sangue dos primeiros que foram sacrificados por seguirem a Jesus.

No entanto esse homem de coragem e fé, soube transformar tudo isso num trabalho em favor do cristianismo nascente, por amor, o amor que Jesus conseguiu fazer com que ele assimilasse.

 

Paulo soube muito bem definir o amor em uma de suas cartas, onde ele escreveu o conhecido poema ao amor. Ele diz assim:

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine”.

Isso porque muitas vezes as pessoas falam e transmitem ideias que parecem ser de grande transformação para a Humanidade, no entanto se forem palavras ditas sem amor, isto é, se a pessoa que fala não cumpre com os seus deveres para com seus semelhantes, para com a sociedade em que vive, se essa pessoa não abdica em hipótese alguma de um bem estar para dar bem estar a outro alguém, serão meras palavras, por mais belas, lógicas e inteligentes que sejam. Não tocam as pessoas que as ouvem, e o objetivo não será atingido.

“Ainda que eu tenha o dom da profecia, e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de transportar montanhas, se eu não tiver amor eu nada serei”.

Se não for o amor a movimentar o conhecimento humano, o desenvolvimento cultural e científico, se todo esse cabedal de conhecimentos e desenvolvimento e não redundar em beneficio para coletividade –  e Paulo se refere também á própria faculdade mediúnica, que ele chama de “o dom da profecia”, – se o uso dessa faculdade não for em benefício de todos, nada, absolutamente nada acrescenta à criatura.

“Ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que entregue meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor nada disso me aproveitará”.

Ele está falando sobre a caridade sem amor.

E por mais estranho que pareça existe caridade sem amor.

É muito fácil jogar uma moeda ao pobre da rua. Geralmente é mais fácil fazer isso que deixar de fazê-lo, pois deixamos de nos sentir culpados pelo cruel espetáculo da miséria.

Que grande alívio, por apenas uma moeda.

Entretanto, se amássemos realmente aquele pobre, aquele irmão, faríamos muito mais por ele.

Paulo continua a definir o amor, dizendo que ele é a soma de uma série de pequenas e grandes virtudes: Paciência, bondade, generosidade, prudência, humildade, conformação, desinteresse, justiça, tolerância, confiança, esperança, resignação.

No entanto com o que vivenciamos no nosso dia a dia, percebemos que esses ensinamentos todos, deixados por Jesus e seus seguidores mais diretos, não foram completamente absorvidos.

E não é somente no nosso pequeno círculo de convivência, todas as sociedades do planeta passam ainda por estados de inquietação e instabilidade.

Isso porque nós homens, num todo, ainda não agregamos ao nosso patrimônio individual aquelas virtudes que nos levariam à prática da Lei do amor, nos solidarizando com nossos semelhantes.

No entanto quão diferente seria o panorama do nosso mundo se exercitássemos o amor.

Mas quando isso acontecer, quando cansados de praticar violências, de praticar injustiças, de viver o egoísmo, de provocar guerras, revoltas, enfim, quando o homem depois de muito sofrer, muito se inquietar, em decorrência de toda a gama de vícios e imperfeições, o homem se voltar para a único recurso que poderá modificar essa situação – a vivência do amor e da solidariedade aí então teremos a mais espantosa revolução na sociedade humana.

Cessarão os desníveis sociais, que fazem a vergonhosa convivência entre a miséria e a opulência… Acabaremos com a fome e a desolação.

Ninguém se reconhecerá feliz em casa confortável, com belo guarda-roupa e despensa sortida, enquanto multidões não tem onde morar, nem o que vestir, nem o que comer…

Talvez o ponto de partida para implantarmos essa situação ideal em nós, fosse cumprirmos devidamente com nossos deveres para com o todo, com a coletividade, para com a sociedade, e cultivarmos um pouco de compaixão.

Se diante das misérias humanas, a gente tiver dó, como se costuma dizer.

Diz um sábio judeu que aprendeu o verdadeiro sentido do amor ao próximo, ouvindo a conversa de dois homens simples do campo.

Dizia o primeiro:

– Diga-me amigo João, você gosta de mim?

– Claro, sou seu amigo. Gosto muito de você.

– Você sabe, amigo João, o que me dói?

– Ora, como posso saber o que lhe dói?

– Mas, João, se você não sabe o que me dói, como pode dizer que gosta de mim?

E conclui o sábio:

O verdadeiro amor ao próximo consiste em saber o que dói no outro.

Certamente depois de muitas lições dadas, de diversas formas, acabaremos por assimilar o amor, e nos dispormos a vivenciá-lo.

Nesse dia o Universo não terá segredos para nós.

Seremos parte dele, integrados a tudo e a todos, no infinito amor de Deus

  • O Evangelho segundo o Espiritismo – cap 11 – Amar o próximo como a si mesmo

A autora Maria Fátima Granja é colaboradora do Centro Espírita Allan Kardec – Campinas – SP, estudiosa da Doutrina Espírita e dos temas bíblicos à luz da Doutrina Espírita.