“Entendendo o Evangelho com a Doutrina Espírita”
Autora: Fátima Granja
Nos ensinos e histórias que contava, ou no relacionamento cotidiano quando se tratava do elemento feminino, a postura de Jesus sempre foi imparcial, valorizando igualmente tanto o homem quanto a mulher.
Quando se via diante delas ou abordava qualquer situação com relação a elas, Jesus agia de um modo singularmente evoluído para o seu tempo.
São muitas as que estão nomeadas nos evangelhos. Mulheres que o procuravam em busca da cura para seus males, que o buscavam para ouvir da sua boca bendita alguma coisa que enchesse seus corações.
Mas todas elas ensejaram importantes ensinamentos que Jesus deixou para a posteridade.
Certamente que muitas delas depois de havê-lo conhecido e serem beneficiadas de alguma forma por ele, tornaram-se suas seguidoras, outras talvez não.
Vamos ver algumas das nomeadas nos evangelhos:
1. AS AMIGAS DE BETÂNIA
Jesus algumas vezes foi recebido na casa de amigos na aldeia de Betânia, nas cercanias de Jerusalém.
Nos evangelhos canônicos podemos ler que lá moravam Lázaro um amigo muito querido e suas irmãs Marta e Maria.
João afirma que “Jesus amava Marta e sua irmã e Lázaro”. (Jo 11:5)
O evangelho demonstra que havia entre eles certa intimidade e confiança, certamente baseada em uma antiga relação afetiva, pois quando Lázaro adoeceu as irmãs não hesitaram em chamar o amigo para ajudá-las no momento difícil, enviando um recado:
“Senhor aquele a que amas está doente.” (Jo 11:3)
No relacionamento entre eles nota-se que embora Marta tivesse muita confiança em Jesus, acreditando em seus feitos, vivia as voltas com os trabalhos próprios de dona de casa, anfitriã, certamente porque era mais velha e com mais responsabilidades – ansiosa para que tudo corresse bem – reclamando que a irmã Maria não a ajudava.
Maria, no entanto, negligenciava com relação à atarefada irmã, se detendo junto ao grupo de discípulos ouvindo sequiosa, os ensinamentos que Jesus proferia.
O evangelho de Lucas ainda dá um detalhe dizendo que Maria ficava “sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra”, sinalizando assim que Maria era discípula de Jesus.
Era assim que os israelitas se referiam quando falavam sobre a postura dos discípulos e seu mestre. (Lc 10:39)
Foi Maria de Betânia que estando na casa de um amigo, Simão o Leproso – onde estava sendo oferecido um jantar em homenagem a Jesus, poucos dias antes de o prenderem e executarem – ungiu o Mestre num gesto simbólico, quase que profetizando o que aconteceria muito em breve. (João 12:3)
2. MULHER CANANEIA
Certa vez Jesus estava numa região onde não esperava ser reconhecido.
Era na região de Tiro e Sidon, fora, portanto da terra dos israelitas, onde Jesus se recolhera para longe das multidões, se dar um tempo para conversar mais intimamente com seus mais chegados discípulos.
Mas não conseguiu permanecer em oculto por muito tempo, pois foi procurado por uma mulher da região, que apesar de não seguir a cultura e religião professada por Jesus, ouvira falar de seus feitos e vinha em busca da cura para sua filha que estava subjugada por um espírito inferior.
A mulher demonstrou tamanha confiança em Jesus, pelo que ouvira falar dele, que Jesus acabou curando-lhe a filha.
Nesta passagem Jesus salienta o poder da fé nos mecanismos das Leis de Deus, e curou a menina, mostrando sua mentalidade universal, não considerando necessário que ela fosse seguidora da Lei de Moisés.
3. MULHER HEMORROISSA
No meio da multidão estava uma mulher que lutava com uma enfermidade havia 12 anos, sofrendo nas mãos de vários médicos, gastando tudo o que possuía e não conseguindo se curar.
Era uma hemorragia, e segundo o Levítico toda mulher que estivesse com um fluxo de sangue era considerada impura. Por isso a mulher não se manifestava temendo ser repelida pela multidão devido a sua impureza.
Sem falar abertamente com Jesus, pedindo ajuda, ela pensou: – Se eu tocar ao menos a borla de seu manto… (Mc 5:28)
A mulher possuída pela fé naquele Rabi que demonstrava tanta sabedoria e bondade, tocou-lhe as vestes.
No mesmo momento Jesus sentiu que parte de seus fluidos estavam sendo atraídos pela fé que a mulher no meio da multidão possuía.
– Quem me tocou? (Lc8:46)
E no mesmo instante a mulher ficou curada.
Na passagem com a mulher samaritana Jesus sinalizou muito bem o que ele pensava a respeito das mulheres.
Diz o Evangelho de João, que Jesus voltando de Jerusalém para Galiléia, por algum motivo não usou a rota habitual, margeando o Rio Jordão, mas atravessou as Terras dos Samaritanos.
Caminhando já há algumas horas sob sol escaldante, o grupo de Jesus fez uma parada numa localidade perto da cidade de Sicar onde havia um poço.
Enquanto Jesus ficou junto ao poço, descansando seus discípulos seguiram adiante até a cidade próxima certamente a busca de alimentos.
Como era o costume – eram as mulheres que iam às fontes na busca de água para seus lares.
Chegou ao poço uma mulher da região trazendo os apetrechos para retirar água do poço.
Segundo os costumes dos israelitas um homem jamais deveria falar com uma mulher em público, nem que essa mulher fosse a sua esposa.
Mas Jesus quebrando as regras preconceituosas, se dirigiu à mulher pedindo que lhe desse água para beber.
A partir daí desenvolveu-se um surpreendente diálogo entre eles, mostrando Jesus não possuir o mínimo preconceito com relação ao sexo frágil, não só dando demonstrações de suas faculdades espirituais extremamente desenvolvidas, como também se revelou a ela como o Messias.
5. A PECADORA
Novamente Jesus dá mostras de sua grandeza espiritual, diante da fragilidade humana, fosse ela oriunda das mazelas de um homem ou de uma mulher.
É a belíssima passagem em que Jesus é abordado por uma “mulher pecadora da cidade”, quando estava como convidado para um banquete na casa de um fariseu.
A mulher chorava copiosamente a ponto de molhar os pés de Jesus com suas lágrimas e os enxugava com seus cabelos; cobria os pés de Jesus com beijos e os ungia com perfume.
A cena desconcertante deu ensejo a um profundo ensinamento sobre como podemos, dentro das Leis de Deus, superar muitos de nossos erros.
Diante da estranheza que o fato causou entre os convivas, Jesus justificou a atitude da mulher.
“seus numerosos pecados lhe estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor. Mas aquele a quem pouco foi perdoado mostra pouco amor”. Lc 7: 36-50
Por esse motivo veremos posteriormente Simão Pedro usar esse ensinamento dizendo em sua carta, “o amor cobre uma multidão de pecados” (1 Pe 4:8).
Quando Jesus entrava na cidade de Naim, se deparou com um cortejo fúnebre, em que uma pobre viúva se desesperava pela morte do seu único filho.
Certamente Jesus avaliando como seria a vida desta mulher, se compadeceu dela e consolando-a fez parar o cortejo.
Tocando o esquife ordenou ao jovem filho da mulher que se levantasse. E o rapaz que estava numa condição de quase morte – por isso Jesus conseguiu fazê-lo despertar – viu sua enfermidade curada fluidicamente por Jesus que o chamava novamente à vida material.
7. A MULHER ADÚLTERA
É o evangelista João quem conta esse episódio.
Jesus é questionado sobre um assunto muito delicado: uma mulher pega em flagrante delito de adultério.
Os preceitos seguidos pelos israelitas eram muito claros e severos no que dizia respeito a esse procedimento por parte das mulheres.
Nestes casos quer estivesse ela casada ou apenas prometida em casamento estava praticamente condenada à morte.
Se fosse apenas comprometida, era obrigada a tomar uma beberagem na frente do sacerdote no Templo. Eles colocavam “nas mãos de Deus” – se ela fosse inocente nada lhe aconteceria, mas depois de ingerir a droga ela entrasse em lenta agonia até morrer significava que era culpada.
As mulheres casadas simplesmente eram apedrejadas até a morte.
Nos dias de hoje existem ainda povos muito atrasados que ainda usam esses procedimentos absurdos.
Conhecedor das Leis de Deus, sabendo que ninguém tem o direito de – sob qualquer motivo – atentar contra a vida de quem quer que seja, Jesus sendo questionado por aqueles que queriam vê-lo dizer qualquer coisa que fosse apenas um pretexto para levá-lo a julgamento, deixa registrada uma das mais belas lições.
“Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”. Jo 8:7
Todos os acusadores se retiraram sem nada dizer deixando a mulher, que apavorada e ao mesmo tempo aliviada esperava o que estava por vir.
E Jesus simplesmente lhe pergunta.
“Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Nem eu tampouco te condeno. Vai e desde agora em diante não peques mais.” Jo 8:10-11
Por essa passagem temos uma ideia clara da grandeza de pensamento que Jesus, que já demonstrava há mais de dois mil anos.
Porém quando se estabeleceu a Instituição Igreja, os seus membros omitiram essa passagem por muito tempo, temendo por suas mulheres.
Certamente todas essas mulheres tinham motivos de sobra para se tornarem fiéis seguidoras do Rabi da Galiléia.
8. MARIA DE MAGDALA
Quanto à Maria de Magdala, o relato que temos é de uma enferma da alma, obsidiada por sete espíritos impuros.
No entanto, por quase toda a história do cristianismo ocidental viu-se em Maria de Magdala uma pecadora redimida.
O PORQUÊ DESSE EQUÍVOCO (1)
O que se tem como certo é que bem cedo se começou a se fazer certa confusão entre algumas mulheres citadas pelos evangelistas e Maria de Magdala é uma delas.
- Maria de Magdala – tem sua entrada nos evangelhos no 8o. Capítulo de Lucas.
- A pecadora perdoada por Jesus – Essa passagem é também narrada por Lucas, no 7o. Capítulo de seu evangelho. A mulher pecadora não tem nome. A tradição cristã sempre teve como certo que “a pecadora da cidade” fosse uma prostituta. Não há absolutamente nada que insinue ser ela Maria de Magdala, que é nomeada pelo evangelista no capítulo seguinte, num contexto completamente diferente.
- Maria de Betânia – a irmã de Marta e de Lázaro – os três amigos de Jesus. Pois bem, essas três figuras femininas constantes nos evangelhos foram incorporadas à personalidade da tradição cristã ocidental de Maria Madalena – A santa arrependida. Equivocadamente a Santa Arrependida assim chamada, era porque ela foi tratada pela cristandade desde os tempos mais antigos como sendo uma prostituta.
(1) Lilia Sebastiani em Maria Madalena De personagem do Evangelho a mito de pecadora redimida – Pág. 21
Existem algumas citações sobre Maria Madalena no Evangelho, que também pode ser chamada de Maria ou Marian, ou Miriam de Magdala – Uma mulher chamada Maria, nascida na cidade de Magdala.
Outro fator importante a se considerar é o fato de os evangelhos que conhecemos terem sido escritos algumas décadas depois do
evento Jesus, sendo, portanto, uma recordação dos que haviam presenciado os fatos e dos que ouviram os relatos dos discípulos.
Sabemos que quando isso acontece, havendo um razoável espaço de tempo entre os fatos e os relatos, sempre há uma interpretação por parte de quem está recordando e principalmente por aqueles que estão transmitindo o que ouviram de outros – interpretações estas, já modificadas segundo a maneira de ser de quem transmite
Muitos e muitos livros têm sido escritos tendo por tema aspectos da vida de Jesus e seus seguidores. Abordar este assunto garante um público certo, trazendo a seus autores resultados financeiros consideráveis.
Semelhante fato acontece com o livro Código Da Vinci, cujo autor Dan Brown, além de colocar em sua obra o tema Jesus e sua seguidora Maria Madalena como tema principal, “enriquece” o assunto citando outros personagens famosos da arte e ciência, inserindo sociedades secretas, tão a gosto do imaginário do povo, e tudo isso relatando uma investigação policial repleta de suspense. É um livro bem escrito, prende a atenção por seu aspecto de suspense a aventura.
No entanto o autor mescla ficção com personagens reais – fantasias com relatos históricos.
Sendo assim, certamente gera confusão entre aqueles que não conhecem devidamente os acontecimentos e personalidades históricos como também àqueles que desconhecem sobre a vida de Jesus e seus seguidores – fazendo com que pensem que tudo pode ter acontecido.
Só para se ter uma ideia, o livro defende a tese de que Jesus foi casado com Maria Madalena, e ao morrer na cruz a teria deixado grávida. Sendo Jesus descendente do rei Davi – portanto de sangue real – sua descendência seria igualmente real.
Madalena grávida teria fugido da Terra de Israel e se estabelecido na França e teria dado a origem a uma dinastia real – Os Merovíngios, que na verdade seriam os descendentes reais de Jesus.
…E o livro já vendeu mais de 12 milhões de exemplares.
Podemos imaginar o que aconteceu com os pensamentos desses milhões de leitores.
A autora Fátima Granja é colaboradora do Centro Espírita Allan Kardec – Campinas – SP e estudiosa da Doutrina Espírita dos assuntos bíblicos à luz da Doutrina Espírita.