Autora: Fátima Granja
O que é a morte?
É uma pergunta que o homem vem se fazendo através dos tempos.
O drama da morte e suas consequências se fazem presentes em todas as criaturas, em toda história da humanidade.
Para as sociedades tribais primitivas, havia a crença numa “terra dos mortos”, habitada por aqueles que haviam morrido.
Viam claramente que a vida que animara aquele corpo, agora inerte, havia saído dali e deveria ir para algum lugar.
Havia o Xamã, um feiticeiro, que teria a capacidade de ultrapassar os limites da “terra dos mortos” e era ele que trazia para os demais membros da tribo, esclarecimentos sobre a morada dos mortos.
Nos dias de hoje podemos entender que esse Xamã, por possuir a faculdade mediúnica, tinha acesso à realidade espiritual.
Pairava entre todos, o medo da morte, e o medo dos mortos.
Tudo era envolto no mais tenebroso dos mistérios, e a existência após a morte era vista como sendo uma “servidão” a poderes impenetráveis, numa sobrevivência sombria.
Para os Hebreus, os mortos ficavam no Sheol, assim como para os gregos, eles ficavam no Hades.
Ambos, lugares tristes e sombrios onde os mortos permaneciam aglomerados como se fossem imagens enfraquecidas daquilo que haviam sido na sua existência terrena.
Para outros povos antigos, a imortalidade era interpretada de uma maneira mais ampla e detalhada, como por exemplo, para os antigos egípcios.
Os egípcios, nas suas tradições religiosas através dos tempos, detalham o Além, descrevendo, a jornada da alma, o papel dos deuses na vida futura, as imagens de julgamento dos mortos, os princípios espirituais que sobrevivem depois da morte, propondo uma salvação pela eternidade.
Neste caso o medo da morte e as esperanças da imortalidade estavam intimamente ligados a um conjunto de práticas – mágicas e místicas que envolviam a manutenção do corpo através de técnicas de embalsamamento, construção de grandes monumentos – que ainda animam a nossa imaginação – e orações, proteção divina, julgamento das ações.
A tradição das seitas filosófico-religiosas da Grécia de Pitágoras (séc. VI a.C. 500 à 600 a.C.) , refez de certa forma o conceito da morte.
Havia uma essência imortal divina que era a alma. E um corpo físico perecível, mero veículo para a alma em suas sucessivas encarnações. A alma podia libertar-se voltando para a essência primordial e criadora. Morte e vida se sucediam, através da dor, sofrimento e ignorância.
A doutrina da Platão (427/347 a.C.), vai herdar essa tradição e proporá: o modelo de uma alma imortal num corpo mortal que ansiava retornar a um estado puro imperecível e imutável.
Para os adeptos de Platão, libertar-se do medo da morte e superá-la, era através do conhecimento e de práticas de vida e de conduta moral e espiritual adequadas.
Para os povos da Bíblia, ou seja, israelitas, cristãos e muçulmanos, há uma alteração nos conceitos de imortalidade.
Quando falamos cristãos e cristianismo, queremos nos referir às doutrinas dogmáticas, que constituem o que os homens fizeram dos ensinamentos de Jesus, representadas pelas “Igrejas Cristãs” – A Católica e as que se formaram depois da Reforma por Lutero.
Para eles, a alma e o corpo, indissoluvelmente ligados durante a vida física, e provisoriamente separados com a morte, voltam a juntar-se no momento do grande julgamento divino, o juízo final, com a ressurreição dos mortos.
Neste caso o medo da morte passou a ser o medo daquilo que impediria essa ressurreição da carne – o pecado, que implicaria num julgamento, a culpa e o castigo divino, implacável e certeiro.
A imortalidade e a vida eterna ocorreriam depois da ressurreição dos corpos, e era consequência de uma vida justa e da fé conforme os preceitos religiosos. A condenação eterna seria consequência do pecado.
No entanto, o que Jesus nos deixou com seus ensinos, não foi isso.
O Cristo, Espírito Superior, nos mostrou claramente com seus ensinos e exemplos, o que é a morte e o que acontece depois dela.
A sublimidade de seus ensinos, porém:
Se viram mescladas com ideias antigas já existentes no paganismo,
e acabaram por transformá-los em instituição política, regida pelos dogmas para tanto criados.
A Origem do Dia de Todos os Santos
Segundo a enciclopédia santo é aquele: Que vive em estado de pureza e perfeição.
Pessoa exemplar, virtuosa de conduta irrepreensível.
Todas as religiões do mundo segundo seus preceitos elegem os que são considerados seus Santos.
Nos primeiros tempos do Cristianismo, quando aconteciam as grandes perseguições aos seus adeptos, aqueles que eram martirizados por defenderem os ideais cristãos, passavam a ser venerados pelos seus companheiros de fé.
São os mártires que com o tempo foram chamados de Santos.
Eram feitas verdadeiras peregrinações aos cenotáfios – como eram chamados os túmulos dos Santos – tendo cada uma dessas peregrinações, um dia específico de celebração, certamente o dia do martírio.
Era o que acontecia nas catacumbas, onde levas de crentes iam venerar seus mártires que haviam sido sepultados nos cemitérios subterrâneos da Roma antiga.
Na instituição Igreja Católica que foi um dos grandes seguimentos do cristianismo, convencionou-se: Cristo como sendo a cabeça da Igreja, e o povo o corpo da Igreja.
Compunham o corpo da Igreja, os fiéis vivos, como também os mortos, que poderiam se encontrar em três diferentes estados:
- A igreja peregrina, se esforçando por viver fielmente sua existência terrena. (Seriam os encarnados)
- A igreja triunfante dos Santos no Paraíso
- E o outro estado, o purgatório, ou a Igreja Sofredora
No Purgatório o fiel era purificado, para ter acesso à Igreja Triunfante.
No século VII, o Papa Bonifácio IV proclamou o dia 13 de maio como sendo o dia para se celebrar Todos os Santos Mártires, homenageando aqueles mártires que não eram muito notáveis, que não tinham um dia próprio para sua veneração.
Em 835, um outro Papa, Gregório IV mudou a data e o nome da festa, para 1 de novembro, como sendo a Festa de Todos os Santos.
A mudança de nome da festa era porque houve uma mudança no conceito de Santo.
Na igreja nascente eram considerados Santos, aqueles que eram martirizados, porém com a mudança que houve, com o fim das perseguições, e criação da instituição – Igreja Católica passaram a ser considerados Santos também, outros elementos que se destacassem dentro da Igreja e não só os mártires.
No primeiro dia de novembro então, eram celebrados os componentes da Igreja Triunfante.
Essa é a origem do dia de Todos os Santos.
A origem do Dia de Finados
A tradição da Festa de Todos os Mortos, ou Finados como conhecemos, teve sua origem no século VII, quando um monge decidiu oferecer suas missas, no dia seguinte ao pentecostes, 50 dias depois da Páscoa, aos membros sofredores da Igreja, ou seja, às almas que estavam no Purgatório – À Igreja sofredora.
Foi somente no final do século X, que os padres de um Mosteiro Beneditino em Cluny, mudaram o dia para 2 de novembro, um dia depois da Festa de Todos os Santos.
O costume se expandiu e no século XII Roma colocou a Festa de Finados no calendário da Igreja.
Finados = Segundo dia do mês de novembro, que, (a partir de 998), foi especialmente consagrado pelos católicos como dia de oração pelos mortos. – Enc. Larousse Cultural
Como pensam os espíritas
Nós espíritas temos um outro entendimento das coisas, e já sabemos pelas revelações dos Espíritos do Senhor, e pelo uso da razão, que todas as criaturas, de todos os credos, são filhos de Deus, sem privilégio deste ou daquele seguimento religioso, desta ou daquela manifestação de sua fé, desta ou daquela posição que ocupe na sociedade ou grupo a que pertença.
E que todos indistintamente estamos construindo a nossa evolução, por méritos próprios.
Sabemos também que para Deus somos todos vivos, porque apesar de, em determinado momento de nossa caminhada nosso corpo físico perecer, permanecemos vivos em espírito, com nosso corpo fluídico, para num outro momento construirmos outro corpo físico, para uma nova etapa de realizações, continuando assim a nossa escalada rumo ao aperfeiçoamento.
Todo esse mecanismo é regido pelas perfeitas Leis da Providência Divina.
Orientam-nos os Espíritos do Senhor que quando o corpo físico não oferece mais condições de manter encarnado o espírito imortal, este sem perder a condição de Ser vivo, passa um período de tempo, que poderá ser mais ou menos longo, no que eles chamam de “erraticidade”.
É ele um espírito errante, aspirando uma nova oportunidade, e a espera.
Em certos casos este período de tempo poderá perdurar por muito tempo, falam até em séculos, porém nunca é perpétuo.
Permanecer mais ou menos tempo como espírito errante depende das características de cada um, e é determinado pelas Leis de Deus que regem a tudo e a todos.
Porém alguns Espíritos pedem o seu prolongamento para prosseguirem com estudos que não possam ser feitos com proveito a não ser no estado de Espírito.
Mas é da Lei que ele retorne. Sempre lhe será dada a oportunidade de, cedo ou tarde, recomeçar uma nova etapa que servirá de purificação para as anteriores.
No período que permanece na erraticidade o Ser Espiritual pode melhorar-se bastante, de acordo com sua vontade, pois:
- Passa por estudos.
- Analisa seu passado.
- Observa o que se passa nos lugares que percorre.
- Observa a condição de outros seres que como ele passaram para o outro lado da vida.
- Ouve discursos e conselhos de Espíritos mais elevados que ele.
- Realiza tarefas sob orientação de mentores e instrutores espirituais.
- Pode até, na condição de observador, visitar algum mundo superior, entrevendo assim a felicidade que pode almejar, e isso lhe dá o desejo de se melhorar para ser digno de um dia desfrutar esta condição melhor.
Com isso adquirem novas ideias que não possuíam anteriormente.
Enquanto permanece na erraticidade o Ser Espiritual poderá ser mais ou menos feliz, segundo suas características:
- Aqueles que ainda conservam apego desmedido as coisas materiais e tudo aquilo que essas podem lhe oferecer, sofrem pelas suas paixões.
- Aqueles que têm seus interesses voltados mais para as coisas do espírito, objetivando seu crescimento e progresso, são mais felizes.
- Aqueles que adquiriram dívidas para com as leis de Deus, crimes para com seu próximo ou contra si mesmos, em atitudes suicidas de qualquer ordem, permanecerão mais tempo, sofrendo maior desequilíbrio, até que consigam por um acréscimo da misericórdia das Leis de Deus, um equilíbrio relativo que consiste em reconhecer a si próprio, suas fraquezas seus delitos e sinceramente, se reconhecer em débito com desejo de se reconciliar com as mesmas Leis, poderá então numa situação de espírito errante esperar uma nova oportunidade.
Mas uma coisa é certa, todos terão oportunidades de aprender a valorizar o que realmente tem valor, sendo essa etapa na erraticidade, como o foi a que permaneceu encarnado, fases de um mesmo processo, que tem por único objetivo a melhora do Ser em termos intelectuais e morais.
Os Imortais ainda falam sobre lugares particularmente destinados aos seres errantes, nos quais poderão habitar temporariamente.
São posições intermediárias situadas entre mundos graduados de acordo com a natureza dos Espíritos que neles habitam e gozam de maior ou menor bem estar.
Para nós, estar encarnado na Terra significa uns poucos momentos de nossa existência, como se estivéssemos numa oficina de trabalho, onde a nossa tarefa ou função é construir o nosso aperfeiçoamento.
Para cada um de nós – espíritos encarnados na Terra, de acordo com nossas características e necessidades – a oficina Terra pode representar:
Um hospital, para aqueles que precisam corrigir desajustes oriundos de viciações/doenças espirituais do passado.
Uma prisão – uma expiação dolorosa para os que resgatam débitos relacionados com crimes cometidos em vidas passadas.
Uma magnífica escola, para os que já compreenderam que a vida não é mero acidente biológico, nem a existência material uma simples jornada recreativa, passando por provas de avaliação dessa compreensão conquistada.
Uma coisa a Terra não é: Ela não é o nosso lar.
O nosso lar está no plano espiritual, onde conquistando condições mais sutis, poderemos viver com mais liberdade, em plenitude, sem as limitações impostas pelas coisas materiais.
De posse desses conceitos, é compreensível que enxerguemos a morte e o depois dela, de uma forma diferente, e superemos temores e dúvidas, inquietações e enganos, tão naturais no estágio que estamos vivendo.
Podemos concluir então que, existe uma humanidade no plano espiritual, assim como existe uma no plano material, se revezando no campo existencial.
Sabemos que as almas que partiram da Terra não apenas estão vivas, mas trabalham, estudam, convivem, sofrem amam, progridem, estagiando na própria crosta terrestre ou permanecendo em intercambio com seus afetos terrenos.
Sabemos que o mundo espiritual não é um país de nevoas, mas regiões onde existem núcleos habitacionais, colônias, cidades, centros de cultura e pesquisa, e , por outro lado, locais de trevas e agonias, como estações temporárias daqueles que viveram dos instintos e do mal.
Sabemos que podemos e até devemos nos solidarizar com nossos irmãos, da nossa grande família humana, encarnada e desencarnada, e ajudá-los dentro dos limites de nossas possibilidades.
Sabemos também que nos solidarizamos e influenciamos os nossos entes queridos que se encontram na realidade espiritual, através do pensamento, dos sentimentos, do equilíbrio, da prece.
O Dia de Finados
Voltamos a falar agora sobre o dia que foi escolhido para reverenciar aqueles que sabemos, continuam vivos como nós, mas que ultrapassaram os limites desta dimensão material.
Com o entendimento adquirido, percebemos que não é preciso seguir o exemplo dos homens da Antiguidade que peregrinavam pelos túmulos, e catacumbas onde estavam sepultados aqueles a quem queriam homenagear.
Podemos orar por eles em nossas próprias casas ou em qualquer lugar, porque o que vai levar a nossa homenagem, o nosso carinho a eles, será o nosso pensamento e o amor que continua nos ligando a eles apesar da aparente distância.
- Pesquisa na Internet
- Livro dos Espíritos – 2ª parte – capítulo VI – Vida Espírita
Fidelidade Espírita Set 2008 – Chico